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"Livros, discos, vídeos à mancheia! E deixe que digam, que pensem, que falem..."

quinta-feira, março 23, 2006

Gabriel e a filha de Janaína

Conta-se, como nos bons livros antigos, que Gabriel encantou-se com a filha de Janaína e por ela fez mundos, fez fundos. Portas e janelas brilharam ante a aparição da menina bonita. Gabriel passava com sua bicicleta de asas pela janela da menina e a ela devotava seus beijos de pensamento.

Era com brilho bruto que a menina devolvia o olhar. De tanto sonhar ele virara anjo, solto, com asas nos dedos dos pés e vento atrás das orelhas. Sentia-se encachoeirado e não arredava de perto da mordida macia do amor.

Gabriel, esse menino, sentia o que era amar a filha de Janaína nas mais intensas. Virava seu estômago perceber que o céu mudava de cor e prenunciava algo novo. Céu bom, céu azul, céu de lodo.

Encontrava-se com ela às escondidas. Nem mesmo eles sabiam que se encontravam em praças públicas, como quem vive de segredos, como quem devora segredos, os come com volúpia. Sem saber dos beijos, subia árvores e quebrava tesouras; saboreava cada lufada de brisa. A menina, filha de Janaína que era, guardava nuvens e encomendava a chuva do verão passado. Gostava porque gostava de sair à rua, catando sementes e borboletas; plantava borboletas displicentemente e devolvia as sementes ao ar.

Ainda que o mar e as florestas secassem, ainda que a juventude não trouxesse mais nada, o fraterno olhar de Gabriel via com volúpia a morena menina. Continuava o segredo que envolvia os olhares, as trevas claras; mesmo quando o dia insistia em passar no vazio, ainda estava lá o que fascinava.

Se o tempo que passou não mexeu em nada, a culpa foi tão e só deles. Se as juntas, fábricas de dores, e os membros não ouvem mais, a culpa é do tempo. Foi quando isso, e só quando isso, que Gabriel estendeu seu braço e a menina aceitou. Já se via a não-eternidade de outros amores.
A filha de Janaína passeia com o velho anjo. E o velho anjo diz:

- Venha pra perto. Quero te mostrar coisas...

16 Comments:

Anonymous Anônimo said...

O Álex é assim... Sempre uma emoção nova, ao longo de toda nossa caminhada... Fazer parte de seu círculo de amigos e estar aqui hoje, postando meu comentário, é maravilhoso! Tenho muito orgulho de ser sua amiga. Sua amizade é uma das jóias mais preciosas que possuo e ele é uma das pessoas mais incríveis que conheço... Que Deus te abençôe muito e que sua caminhada seja mais branda e poderosa.
Ah! Era pra falar do texto acima né? Bem, ainda não li tudo, copiei texto pra dentro do meu Word e vou ler mais tarde mas, como sei que és o cara mais talentoso com as palavras que conheço, já dou o meu aval e recomendo a todos com a melhor das notas! Como muito amor,

5:01 PM  
Blogger Marco Aurélio said...

É por essas e outras que quando saio de casa com minha bicicleta alada apostando corrida com as borboletas não perco tempo em pisar no freio!

Valeoooô

5:59 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Raio de Luar! Que bom que apareceu por aqui. O nosso círculo de amigos é muito especial mesmo, ainda que nos encontremos anualmente, né? Tenho marcas indeléveis de tudo que aprendi com todos vocês. Sou abençoado por ter amigos como você, como a nossa turma.

Muitíssimo obrigado pelos elogios. Fico feliz que você gosta do que escrevo. Venha sempre aqui nesse buteco, hein?

Servimos bem para servir sempre.

Beijos, querida!

11:58 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Coréio, tira logo o cabo do freio da bicicleta. Voando com as borboletas, nem precisamos de freios, né, meu irmão?

Ósculos voadores!

12:00 AM  
Blogger Alex Manzi said...

Paulinha, que bom que o texto te trouxe tanta coisa bacana. E, pelo contrário, o que você escreveu tem muito sentido.

Às vezes temos que viver muito pra chegar em porto seguro, naquilo que sonhávamos sempre. Foi assim com Gabriel e a filha de Janaína, é assim com muita gente...

Mais uma vez obrigado pela visita e espero que meus textos continuem tocando, provocando, emocionando.

Beijinho.

12:04 AM  
Anonymous Anônimo said...

Impossível não comentar esse post... Inda mais eu... Fico até sem palavras... Aliás você sempre me faz isso... Me faz engolir as palavras, e muitas vezes entre lágrimas... De alegria por ter pessoa tão especial como amigo-irmão-cumpadi...
É meu irmãozinho, Gabriel está por aí... Em sua bicicleta alada... E a filha da Janaína? Por quantas anda? Diga que estamos todos com saudades de todos...
Ósculos e amplexos, meus, do Gabriel, do Rafael, e de Nalvinha, por que sei que você é de...

7:32 PM  
Anonymous Anônimo said...

Parece que foi ontem e foi ontem mesmo. Aquele ciúminho besta da turma de vocês, todos vocês. Até que entrei e como entrei. Mergulhei nesse novo universo de cabeças pensantes, inspiradoras e iluminadas. Vocês me fizeram acreditar que existe vida após o vestibular e que no curso de Letras existiu um grupo de amigos, tão amigos que o amigo aqui trouxe para dentro de casa.
Sinto saudades de todos vocês e se não falei do texto, bem, amigo é assim, num fala não, sente!
Ainda ouço, lá dentro da minha caxola a versão jazz de Um Índio, by alex, precisa dizer mais...
Quando vai ser o próximo encontro...
Jordan

1:11 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ah, que maravilha ter o privilegio de ler esse texto que tenho que confessar ser o meu favorito! Lindissimo, leve, misterioso... Obrigada por escrever coisas tao lindas e enfeitar meu dia, querido amigo!

Osculinhos de Vanessinha!

11:09 AM  
Anonymous Anônimo said...

Pode deixar doutor Alex que sempre estarei passando por aqui...Alex queria te deixar bem claro que tudo que falo para você dentro de sala é brincadeira...e quero pedir também desculpas pelas brincadeiras fora de hora pois tem hora que não consigo parar, mas eu vou tentar me controlar mais...
Um bom Fim de Semana para você e ate terça...
Obs.:se você puder deixar as respostas no meu flog eu acho melhor pois eu custei achar onde eu tinha comentado...o flog esta ai em baixo....obrigado!!
Abraços

9:11 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Jo, obrigado pela visita. Ajude a divulgar o blog então. Conto com seu poder de "espalhamento" de notícias.

Abraço.

9:37 AM  
Blogger Alex Manzi said...

Alex xará-cumpadi-irmão-amigo! Como eu já te disse, sua prosa sempre fará falta aqui. Visite sempre o meu humilde buteco.

Fico assaz feliz de saber que alguns textos conseguem comover, tocar, provocar. Mas isso depende também da entrega que o leitor permite que exista. E você, como sensível que é, se entrega de forma livre e espontânea às coisas que pedem essa entrega.

Teremos oportunidade em breve de encontro entre Gabriel e a filha de Janaína. Você verá. Esteja atento.

Ósculos emocionados pra todos vocês.

9:42 AM  
Blogger Alex Manzi said...

Giordani-Jordan, controlador de vôos de borboletas e afins!

Que ótima notícia essa sua visitinha. Um índio transcendental ainda povoa sua mente? Temos, pois, que fazê-lo virar substância, em mais um TOEFL (Tertúlia Oficial dos Estudantes da Faculdade de Letras). Já que nos encontramos só anualmente, por que não apressar ou duplicar esses tão bem-vindos encontros?

Volte sempre aqui, dê pitacos. Serás sempre bem recebido.

Ósculos aeronáuticos.

...um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante...

9:49 AM  
Blogger Alex Manzi said...

Vanessinha, ao me pedir que te enviasse esse texto, de certa forma você me instigou a colocá-lo aqui. Agora ele é seu e de todo mundo da aldeia.

Gabriel e a filha de Janaína agora têm a possibilidade de alçar vôos mais altos e audaciosos, mesmo com as asas coladas com cera. Se o sol derreter as asas, caem no mar, mas fica a intenção, fica a audácia.

Beijoca, minha Enorme Amiga!

9:56 AM  
Blogger Alex Manzi said...

Salve, caríssimo Henrique. Não há o que desculpar; o importante é sabermos nossos limites e tentarmos melhorar a cada instante. Acredito em você, nos seus textos e em suas idéias humanas, muito humanas.

Volte mesmo. Quero sempre seus palpites por aqui.

Um grande e fraterno abraço e bom resto de fim-de-semana.

10:00 AM  
Blogger Arthur Petrillo said...

Aléquis meu quiridão!!!

Muito bom... To farto dessas historinhas que ouvimos todos os dias... O romance pode ser obtuso em algum ponto. Pode ser contundente. Pode ser de uma outra forma... Estou cheio é dos "formatos". É como se arte tivesse que calçar 41 ou ter manequim 36. Sua historinha é de ninar. De adulto ninar. De adulto delirar... Muito boa a condução do enredo. (Escola de Samba)
"Aléquis de Vila Isabel Eucarístico: DEZ E MEIO!"

Abraçocas/!

6:27 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Meu querido Arthurzinho!

Que bom que vieste. Bom mesmo. Ainda bem que arte não calça um número certinho, né? Ainda bem que temos caminhos desconcertantes e imensos e verdadeiros pra caminharmos. Ainda bem que temos a liberdade exercida em textos como os nossos. Por isso insisto em seu blog. Fantástico seu texto e sua prosa tão poética e rica.

Volte sempre. Sei que irá fazê-lo.

Abraçocas.

p.s.: gente, visitem o blog desse menino e comentem! Não porque estou falando, mas porque é bom mesmo!!!

11:35 PM  

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