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"Livros, discos, vídeos à mancheia! E deixe que digam, que pensem, que falem..."

quinta-feira, abril 13, 2006

O mar, quando quebra na praia, é bonito sim

Não. Não me derrubarei em preces para ti, por ti. Sento e olho a espuma branca de tuas ressacas, do álcool das noites passadas e revividas. De tantos que moram em teu seio, e o fazem involuntariamente. E choro, por causa dos vários barcos idos e tantas jangadas que voltaram sós e tantas tempestuosas tempestades de gelo e mijo e pó e lixo e areia qual deserto no meio do oásis.
Não. Não sinto o que sentia quando cheguei e avistei tua grande ampulheta da aldeia, e teus bacuris a encantarem-se com castelos construídos pela audácia e pela areia misturada à tua água fétida de esgoto. E finjo não ver esse amálgama de lixo orgânico e inorgânico, finjo não sentir os teus odores. E assim continuamos a vida automática, no escritório em frente ao branco de teu pó, teu fermento de sonhos.
E povoas canções, declarações, medos e incertezas num final de etapa. Abrigas santos, demônios, feitiços e marinheiros que de tempos em tempos voltam para sorver a espuma branca de tua cerveja, teu levedo, tua cevada, tua levada, teu segredo.

Não. Não esqueço que te ver foi resolver. Ver-te foi entreter. Ver-te foi o vértice de quase tudo em vida e em morte. O que antes parecia solidão, transformou-se em acompanhamento de orquestra aquática. O que antes era triste, veio se tornar sorriso esboçado quase amarelo e sórdido perante tanta lonjura de afetos. O que antes seco, agora água, sal, vento.

E eu não esqueço tuas meninas e meninos. E bundas esculpidas e braços fortes a salvar vidas ao longo de teu inspirador perigo. E mostram seus encantos diante dos maiores, que são teus. E se lambuzam de areia e óleo, a mistura mesma que frita teus frutos e se encarregará de cegar viajantes quando fores deserto.

E sei que tudo que é belo em ti pode ser fúria. E podes destruir e santificar o que seria um mero acaso, uma luta justa entre siris e camarões, homens e mulheres-peixe à milanesa envoltos na fumaça do cigarro proibitivo.

Não. Eu não pretendo me apartar de ti. E quero e vou ser parte do que vejo e sinto gelado em meu corpo suado. Quando o calor não mais estiver no meu peito, quando o que chamamos vida não mais estiver entre meus músculos, veias, ossos e olhares, quero ficar contigo, meu inesperado amor.

Sim. E aí então não estarei mais entre meus semelhantes. Meu pó será parte de ti.
Alex Manzi.

18 Comments:

Blogger Marco Aurélio said...

Alex

Só podem ser as ressacas, do álcool das noites passadas e revividas que me fazem ter que ler seus textos umas três vezes para ter a sensação que entendi. Pode ser também que eu seja um cara meio anta!

Valeu

4:39 PM  
Anonymous Anônimo said...

Interessante tudo isso...me bate sempre uma sensação de estar em "casa" quando leio seus textos Alex...sei lá...como te falei, seu blog tem algo de convidativo...as palavras q me vieram a cabeça sao a "franqueza em um clima aconchegante". Esse texto em particular me faz lembrar das minhas aventuras de férias ao mar...da vez que me perdi na praia...dos castelos de areia q mais pareciam muros sendo destruidos pelas aguas em fúria vindas em ondas...melancolia?nao. Quando penso nisso e estranho. Não sinto nada para ser sincero...é isso. Abraço

11:59 PM  
Anonymous Anônimo said...

O turbilhao de palavras-sentimentos fizeram-me pensar em nos mesmos... Cada um de nos, diferentes e unicos e complexidades de pensamento, razao, emocao, tudo misturado! Entao voce encontra uma pessoa, seja amigo ou amante, e tudo isso se mistura... Filosofia pura voce hein meu irmaozinho! Eu ja te disse que adoro a maneira como escreve, ne? Por isso to sempre aqui esperando mais!

Beijao!
Vanessinha;-)

7:19 PM  
Blogger Alex Manzi said...

...ou pode ser que eu esteja sendo meio hermético mesmo. Mas não é proposital, meu matemático amigo. Eu juro!

Um abraço descomplicado! Volte sempre!

11:11 AM  
Blogger Alex Manzi said...

Nobre Chewbacca!

Que bom te ver aqui, Malungo. O que me interessa é essa reação aos textos. Melancolia, indiferença, aconchego, lembranças, LIBERDADE.

Volte sempre que te sirvo um café no meu buteco.

Abraços.

11:17 AM  
Blogger Alex Manzi said...

Vanessilda

Que bom que você transcendeu o texto em sua leitura. É dessa liberdade que eu sempre falo. Descobriu coisas que estavam lá, no fundo, enterradas na areia da praia, qual tesouro de pirata-da-perna-de-pau-do-olho-de-vidro-da-cara-de-mau...

Volte sempre que vou tentar ter muito textos bacanas procês!

Ósculos profundos.

11:23 AM  
Anonymous Anônimo said...

Alex, esse texto é muito legal. Me fez refletir sobre uma parte da minha vida que foi muito importante pra mim. O carinho dos meus pais cada vez que íamos para a praia. A farra, os sorvetes, o milho, andar naquelas bananas flutuantes e tudo o mais que me despertou uma enorme saudade... Adorei o seu texto!!!Quando eu voltava pra "cidade" tinha uma sensação de ter deixado alguns dos meus problemas naquela água de lá... e de ter lavado minha alma. Que bom poder mais uma vez desfrutar desses maravilhosos pedacinhos de puro encanto. Obrigada Alex. Beijos no seu coração. Gizele

5:23 PM  
Blogger Arthur Petrillo said...

Alexotan,

Bacana isso do mar ir e voltar e trazer a vida e coisas importantes como a espuma da cerveja. =) .

Mas no meu caso isso é meio traumático, porque pra mim, a humanidade pode aguentar a abundância de recursos que virão com a maré. Mas a metáfora, na minha cabeça não se encaixa pois o mar é traiçoeiro e desconhecido. A abundância de sua água já causou grandes acidentes.

Bom,

é isso...

Claro, cada um cada um..

Detalhe: Texto maravilhoso. Do jeito que eu gosto. Muito bem escrito e nada que prende o leitor em um único pensamento. Queria uma letra assim. Mas vc é tão estrelinha....hehehehe...

Abraçocas!

6:13 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Gizele

Eu também me renovo quando vou à praia. Nem preciso entrar no mar; é só ficar lá olhando aquele tamanhão que metade dos problemas se resolvem sozinhos. Somos um grão de areia MESMO.

Beijos e volte sempre. Obrigado pela constante presença.

11:08 AM  
Blogger Alex Manzi said...

A melhor música dos dias que se foram:

Obrigado pela presença aqui. Espero que você volte sempre e que seu bom texto diga mais ainda.

Grande abraço.

11:10 AM  
Blogger Alex Manzi said...

Petrillo Menino Grande

Acho que é exatamente esse temor que me fascina nesse tal de mar. É aquela imensidão que me dá a impressão de ser pequeno mesmo em tudo. Parece uma imagem batida ou uma observação óbvia, mas isso é muito profundo em mim.

Ao mesmo tempo em que sou apaixonado pelo mar, tenho muito, mas muito medo dele. Ou respeito. Ou os dois. Não sei.

Obrigado pelos elogios, Malungo. Quanto à letra, prometo trabalhar mais, assim que der tempo. Não é charminho, é falta de tempo mesmo.

Grandes abraçocas!

11:15 AM  
Blogger Arthur Petrillo said...

Explicado. E muito bem!!!

Inté!

12:06 PM  
Anonymous Anônimo said...

O mar... o menino; a praia... a menina... e por ai vai o pensamento!

Osculinhos!
Vanessinha.

11:01 PM  
Blogger Alex Manzi said...

E a espuma: poesia derramante; corpos que se tocam. Ora em ressaca, ora em delicadeza.

Osculinhos também.

10:10 AM  
Blogger Marco Aurélio said...

Alex

Tá sumido Hein, doidão. Que foi?
Fiz um post com uma enquête sobre qual é o Pior apresentador (programa) da televisão brasileira. Gostaria que você comentasse e votasse. Até quarta.

Um osculo no seu oxiuro!

Um abraço

Marco Aurélio

4:55 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Corelhão!

Tô aqui, de volta, e com post novo, como você deve ter visto.

Eu estava enfrentando problemas pra escrever e depois pra publicar o que escrevi. Ossos, ofícios, traquinagens do pc.

Daqui a pouco passo no seu blog.

Ósculos

5:04 PM  
Anonymous Anônimo said...

Esse nem me atrevo a comentar!!!!

8:44 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Ah, não!!! Assim não vale, cumpádi!

10:49 PM  

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