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"Livros, discos, vídeos à mancheia! E deixe que digam, que pensem, que falem..."

domingo, maio 07, 2006

Eu não gosto do bom gosto

Gosto das imperfeições humanas. Fascinam-me os dentinhos tortos e charmosos, os pedidos de desculpas (atestado de um erro reconhecido?), a capacidade de cair e se levantar do ser.

Essa introdução pra falar um pouquinho do chamado "bom gosto" que, na minha humildíssima opinião, várias vezes tem sido contaminado por uma pseudo e pedante intelectualidade falsa.

Ficou fácil falar de mercado, músicos que se vendem pra vender mais e mais e "autenticidade", como se cobrássemos honestidade a todo momento de nossos artistas preferidos. Pergunto: quem me garante que os Beatles, a despeito do talento imensurável, não sofreram pressão para adaptar certas canções a um gosto médio, sobre o que seria mais vendável na época? Por que questionamos certos artistas populares que o fazem hoje em dia? Acho que é porque não gostamos do tipo de música/trabalho que fazem. Ou seja, somos sim muito tendenciosos quando julgamos uma obra. Dois pesos e duas medidas? Que feio, gente!

Porque achamos "bacana" um cara do sertão que continua pobre apesar da música que produz e execramos a música "sertaneja" produzida por um cara que também já foi muito pobre e que, através da obstinação e do talento (sim, caríssimos leitores, considero Zezé, Leonardo e Chitãos talentosos) conseguiram ganhar muito dinheiro? É o elogio da pobreza? Síndrome de vira-latas?

Antes que comecem a jogar tomates, esclareço o que me incomoda nisso tudo. A multiplicação e monocultura. Nos anos 80 foi o rock/pop, nos 90 a lambada, e por aí vai. Acho que todo mundo entendeu. Sou a favor da pluralidade e não da preguiça intelectual. Porque algo estourou vai todo mundo atrás disso? Isso não acho bom. Mesmo que seja um tipo de música que me agrada.

Obviamente não estou comparando, mas quantas obras nossos gênios da música erudita não fizeram por encomenda? Isso compromete a qualidade de tais obras? Se o critério for esse, são uns vendilhões!

Achei bonito o post de meu querido parceiro Arthur Petrillo ao falar de Jazz (ou do não-gostar de Jazz). Acho que tudo isso tem que ser discutido mesmo. Iconoclastizar tudo. Isso é liberdade. Como vou questionar a autenticidade de um cara pobre, que viveu no campo e que fez fortuna cantando as músicas que ouvia no campo? Quando a regra fugir disso, aí sim, posso pensar que há espaço pra questionamentos.

E falando em questionamentos, abro espaço pra vocês.

Viva Odair José, Márcio Greyck, Amado Batista e outros que foram/estão/virão!

Ósculos e amplexos para quem for de.

16 Comments:

Blogger Carmen said...

Manzi de mi vida:

Considerar os sertanejos talentosos é um direito seu. Mas eu realmente não concordo. Acho as melodias banais, as letras de péssimo gosto e sinto especial antipatia pelo fato de eles imitarem o country americano, que também acho mui chato. Não gosto mesmo.

Mas eu, de fato, não sou uma pessoa a quem se possa chamar eclética... então esta minha aversão é absolutamente previsível.

Às vezes me sinto como a Aracy de Almeida no Show de Calouros do Sílvio Santos. Lembra daquela figura? Pois é: ela dava "déix pau" (nota máxima) para pouquíssima gente. Sou meio Aracy. Pronto! Confessei!

5:27 PM  
Anonymous Anônimo said...

Fala aí, irmãozin! Saudade demais d'ocê sô!

Abre parêntese... A proposta de abandonar o caixote na segunda tinha que vir junto com a de outro lugar pra suprir nossas necessidades básicas: beber cerveja e bater papo! Temos que pensar nisso! Então... essa semana vai ser de bastante reflexão pra que, lá pela sexta, a gente já tenha definido onde é que a gente vai beber na segunda! ... fecha parêntese.

Cara, sou totalmente contra as idéias do autor de "eu não gosto do bom gosto". Sinceramente, e nem tão radical assim, porque pra mim isso é mais do que óbvio: tudo que eu gosto é bom, tudo que eu não gosto é ruim (ponto final) E não é só porque eu acho ruim, não, é porque é ruim mesmo! Se fosse realmente bom, eu iria gostar. É ou não é?
Coincidentemente, estava vendo Domingo Legal...

abre parêntese: olha a situação do indivíduo... domingão, à tarde, vendo domingo legal... tô precisando de uma namorada... fecha parêntese

, e o tal do Zezé estava lá. Cara, não tem condição! Aquilo é uma merda! Eu não tenho culpa se o cara era pobre. Que fosse fazer outra coisa, que ficasse rico engraxando sapato como o Sílvio Santos, mas cantar não dá. Eu fiz até um jogo enquanto escutava a música. Meu objetivo era conseguir prever o máximo de palavras seguintes numa letra que eu nunca tinha ouvido. Cara, eu acertei 5 seguidas! Imagina se eu conhecesse as outras letras do cara? Ia passar de 10!

Agora... gosto é aquele negócio, né? Cada um tem o seu. Uns têm um bom gosto, como eu, por exemplo. Outros têm gosto ruim... gostam de zezé de camargo, jotaquest, e por aí vai. Mas eles não têm culpa! E música também está no mesmo barco de futebol e religião: não vale a pena discutir quando as idéias são diferentes... "eu gosto de zezé di camargo!"... o que se pode dizer a um indivíduo desse? "meu filho, larga essa vida, vai escutar uma coisinha melhor porque isso é um lixo"... é melhor dizer: "ah é? legal!"

Abração!

8:55 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bicho, tava ali na cozinha arrumando alguma coisa pra eu comer... escutando los hermanos... e pensando na problemática semanal do seu blog. Aí não resisti, vim cá escrever uma coisa que eu lembrei. Semana passada eu quase fui num show com o almir, só num fui porque eu tava meio cançado. Olha o nome da dupla: Don & Ruan. É uma espécie de côve do Bruno e Marrone... domingo que vem tem de novo... vamo?

9:59 PM  
Blogger Marco Aurélio said...

Alex

Também gosto de algumas das imperfeições humanas e defendo a pluralidade.Detesto
a dita intelectualidade que julgo ser sempre falsa. Agora falar que
Zezé de camargo, Leonardo, Chitãos ,Odair José, Márcio Greyck e Amado Batista produzem música não é forçar um pouco a barra? Concordo com a Carmen que você tem todo direito de achar talento nesses caras, apesar de achar que você só pode estar brincando. Se você me falasse isso pessoalmente, no final da sua fala eu esperaria aquela risasinha irônica "peça" que você dá quando está brincando.O que acho Mais " escro..." nessem caboclos é como ela disse eles tentam imitar o country americano que já é o lixo que o Tio Sam produz. Passe um E-mail para o Almir( meu irmão) sobre o que ele acha da polêmica música x qualidade. Acredito que ele seja muito, mais muito melhor mesmo para falar de desses assuntos do que este seu amigo aqui.

Valeu

9:35 AM  
Blogger Arthur Petrillo said...

Alex, o médio.

Alguns comentaristas daqui não entenderam ou possivelmente não leram direito o seu texto. Ou talvez pegaram uma parte dele solta para comentar. Ou realmente se encaixam em perfis de intelectuais preguiçosos (rs..). Não se trata da coisa simplória de dizer que Chitão é bom ou não. É dizer que tem muita coisa envolvida. É mais uma vez o bom gosto enchendo o raio do saco.

Eu acho que entendi sua mensagem. Por muito menos idolatramos os nossos Gonzagas, Teixeiras e Sater's, Penas Brancas, Xavantes, com melodias tão repetitivas quanto (em algumas canções). Mas o cara tá lá, na bosta da origem humilde e a gente dá um puta valor. Não muito distante, temos um rapaz da década de 70 que fez e ainda faz acontecer com suas letras revolucionárias, maravilhosas, brilhantes, cheirosas, femininas, atuais, belas e etc. Sim, caríssimos. É Chico o nome dele. Se vc ouvir Construção e me dizer que a melodia não é repetitiva, está sendo no mínimo surdo (a). Tá certo, é reflexo da monotonia diária que a letra sugere... Mas é repetitiva e chega até a cansar (é proposital, eu sei...)

Não importa. O problema é a posição do cara na mídia? tudo bem... Lembram-se dos artesãos? Faziam arte pras altas classes... E hj estão espalhados quadros deles pelo mundo inteiro. E os intelectuais idolatram tudo isso. Dizer que é ruim por causa da indústria cultural é burrice. Sou baixista e reconheço que as linhas de baixo de músicas de axé, pagode brega e Breganejo são muito bem feitas. Tanto em ritmo quanto em harmonia e melodia. Tá certo que a música não me agrada de forma alguma. Tá certo que o dinheiro move montanhas e faz com que excelentes músicos em técnica toquem com esse povo (músicos que nunca passarão de bandas de baile ou freelas). Mas um monte de bla bla bla..... Mas isso é pessoal. E antes de dizer que não gosto, fiz uma análise completa da coisa. Mas se eu não gosto, não quer dizer que não seja bom.

É engraçado que o cool agora é criticar tudo que é pop. E isso tem se tornado tão comum que virou pop também. É pop criticar do pop. E eu que critico o pop que critica o pop? Sou pop ao cubo. Ou a minha raiz cúbica é o pop? hahahaha... Pirei... Mas tudo bem.

Pirar é pop.

Abraços pras populares e pros populares.

3:47 PM  
Anonymous Anônimo said...

"O Papa é Pop". Tem a indústria cultural, tem a mercadoria. De Chico Buarque à Zezé di Camargo e seu irmão. Tem a Xuxa, tem a Sasha, tem os filmes e a novela. Os sambas-enredo. Não é que Chitãozinho e Xororó não "tenham talento". Não tem é personalidade. Não tem o "eu". Não é à toa que eles se parecem, esses arranjos todos, etc e tal. Todos querem vender, uns mais dispostos que o outro. Pode-se achar "Construção" repetitiva, mas o arranjo é um primor em tensão crescente. Odeio Jota Quest. E eles são bons, tocam bem, música pop redonda, "na moral", boa pra dançar. Concordo contigo na questão da pluralidade: essencial. É importante que tenha o Chico, que tenha o funk carioca e até a Xuxa. O triste é que tenha muito mais Xuxa e axé do que outras coisas. E odeio o Domingão do Faustão. Abaixo a monocultura!

7:19 PM  
Anonymous Anônimo said...

Cara, o pau tá quebrando aqui no seu blog e... cadê você? Faz a mediação aí senão eu e o arthur petrillo vamos cair na porrada aqui dentro! rs

Brincadeira, claro! Abração pros dois!

7:19 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Carmencita de mi corazón:

Eu realmente sou eclético mesmo. Mas não ao ponto de ouvir de tudo. Quem diz que gosta de todo tipo de música, pra mim, é meio surdo. Não acredito nisso. Eu não compraria um disco dos sertanejos citados.

O que condeno no meu texto é a pseudo-intelectualidade dizer o que se deve escutar, ou pior, dizer o que eu devo dizer que gosto. Sinto muito disso em vários colegas nossos.

Vira moda, de tempos em tempos, dizer que gosta de certa coisa e execrar outras. Depende do meio em que estamos, né? Por que fazemos isso? Pra sermos aceitos? Quem achava que o Sidney Magal fazia música comercial na década de 80 é o mesmo que se deleita nos revivals anos 80 do Café Cancún hoje em dia. Por quê? É o tempo que dá dignidade praquela arte?

Agora, quanto ao country... Existe o country e o country. A música norte-americana padece dos mesmos problemas que a brasileira: a produção em série. O que dá certo, vende, chama um monte de gente pra fazer igualzinho. É esse o problema de tudo isso...

Ósculos populistas.

7:59 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Alanzinho de mi corazón también:

A proposta da segunda-feira preenchida com saliva e álcool já está sendo analisada!

Bão, adorei suas ironias, principalmente do seu 2o comentário. Esse seu segundo comentário entendeu o espírito da coisa.

Quanto à questão das letras, já manifestei aqui mesmo nessa espelunca de buteco o meu repúdio à letra de Garota de Ipanema. Não fica nada a dever aos sertanejos, NA MINHA HUMILDE OPINIÃO. Descerei do salto 15 agora e serei deselegante: a letra de Garota de Ipanema é quase uma bosta, assim como de muitos sertanejos e axezentos e mpbísticos e roqueiros por aí.

Por que eu tenho que achar linda? Só porque é do Vinícius de Moraes, um poeta reconhecido pela intelectualidade?

Conheço muita gente que acha os Bítous um saco e o Chico um bosta. Não concordo com estas pessoas, mas estão certas no que dizem. Só porque são ícones têm que ser incensados? Não mesmo.

Quando digo Eu não gosto do bom gosto, me refiro à ditadura intelectual, entende?

Don e Ruan. Deve ser bacana, hein?

Abração, irmãozim!

8:12 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Corélhummm!

Atrevo-me a dizer que esses caboclos fazem MPB. Fazem Música (claro!), Popular (e bota popular nisso!) e Brasileira. Por que não colocá-los no balaião?

Odair José foi o precursor, nos anos 70, de muitas questões polêmicas, como prostituição, controle de natalidade e sexo nas letras de música.

Márcio Greyck tem canções com melodias muito bacanas, inclusive já gravadas pelo meu queridíssimo Belchior. Passam a ser dignas se gravadas por um medalhão da chamada MPB? Por quê?

Não acho que música boa tenha que ser complicada. Tim Maia, Bob Dylan, Neil Young, Nando Reis e outros bastiões fazem, na minha opinião, belíssimas canções com singelos três acordes. Não é o número de acordes que determina a qualidade. É algo que não é explicado e que transcende tudo isso.

Por que uma pessoa que não fala inglês se emociona ao ouvir uma Fake Plastic Trees do Radiohead ou uma The Scientist do Coldplay? Se não conhece tais canções (são simples, poucos acordes), escute-as e você não conseguirá me explicar, mas que vai entender, isso vai.

Ósculos jazzísticos.

8:23 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Tutu, o grande de mi corazón:

O pop acabou virando termo pejorativo. Chato isso, né? Eu gosto de pop.

Daqueles que citei no meu post, os sertanejos-pop (opa, olhaí!), definitivamente não gosto, não compro discos deles, não coleciono revistas sobre. Não impede de reconhecer que existe algo de interessante ali, que toca muita gente. Como bem disse o Alan, tudo isso é muito subjetivo, e ainda reconheço talento neles sim.

Às vezes usamos parâmetros ligados ao meio em que vivemos, à intelectualidade que lemos ou a outras coisas que não a nossa pura sensibilidade. Condicionamento? Tô querendo sair disso.

Ósculos pop pra você.

8:49 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Johnny de mi corazón:

O nosso problema é justamente isso, a falta de pluralidade exibida. Não é que existam mais Xuxas e Kelly Keys e Zezés não. É que só se dá espaço pra isso. Existe muita coisa bacana por aí.

Eu duvido que, se colocássemos um especial de Luiz Tatit ou de Tom Zé no horário do Fantástico, eles não venderiam um milhão e cairiam no gosto do povo, na semana seguinte. Mas duvido mesmo!

Ou seja, parcela de culpa da mídia que só vai atrás de UM trio elétrico e parcela de culpa de uma população com preguiça intelectual, não acha?

Ósculos plurais em todos daí.

8:57 PM  
Anonymous Anônimo said...

Concordo plenamente com você. O que me incomoda é a falta de carinho pelo belo. E nesse ponto sertenejo dá de 1000, entre outros.
O que sinto é o detrimento da qualidade a favor do dinheiro. É fato que a música é um forte instrumento de manipulação, e o que tem rolado é uma manipulação ridícula e que viza a alienação. E aí o bom gosto é discutível.

E dá papo pra mais de 3 metros! :P

10:56 PM  
Blogger Alex Manzi said...

Didi de mi corazón:

Que bom tê-lo aqui! Espero que sempre volte. Já sabe, toda semana...

Bão, acho que a busca pelo dinheiro fácil e a repetição de fórmulas que deram certo empobrece e aliena mesmo o público. Condiciona e todo mundo passa a achar que existe o "normal", o "bom", o "musical".

Isso corta o pluralismo da coisa, o que é muito chato. Nós, que labutamos na música há muito, sabemos o quanto isso atrapalha e é triste, não é mesmo?

No mais, novamente obrigado pela visita e volte sempre nessa espelunca de buteco. Servimos bem para servir sempre.

Ósculos baterísticos.

11:15 PM  
Anonymous Anônimo said...

Olaaa!!!
O texto, como sempre, muito muito bom!!
Abaixo a preguiça intelectual, com certeza!!
E cada qual tem seu gosto, ne?!
Enfim... nao vou mais prolongar o assunto...
Senao iria ficar um longo e entediante discurso.. hahaha
Vc sabe q eu me empolgo qndo falo de musica!!
Tenha um otimo dia!!!
Bjos..

9:24 AM  
Blogger Alex Manzi said...

Jacque Potira

Obrigado pela visita e pelos elogios. Pois pode se empolgar e falar, falar e falar.

O nosso buteco aqui está sempre aberto, feito o McDonald's da Savassi! 24h!

Estou com você. Preguiça intelectual nunca!

Beijos. E volte sempre.

11:38 PM  

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