A Era do Desleixo
Queridas, Queridos...
Ao contrário do que muitos pensam, não estamos na Era dos Extremos, nem na Era da Informação, tampouco numa Nova Era (blé, mas isso é assunto pra outro post). Estamos aboletados no sofá confortável da Era do Desleixo.
Faz-se mister que eu antes esclareça. Estou falando em Desleixo no que concerne ao consumo de arte, principalmente depois da internet. Ou consumo do "entretenimento de massa", como alguns filósofos gostam de classificar. (Eu sou do tempo de se dizer "no meu tempo", ou "antigamente" e não sou tão velho assim, mas vou começar o próximo parágrafo dessa maneira, pra dar mais dramaticidade ao texto e, porque não, mais munição aos meus argumentos.)
Antigamente, comprávamos um LP, com seu encarte bacana, reservávamos um tempo pra nos sentarmos e sacarmos todos os detalhes do encarte, da capa, etc... Ainda havia a relação de ter que se levantar pra virar o disco. (O que será de nós? Essa metáfora já está perdendo o significado! Não se usa mais "vira o disco, meu filho", pra quem é repetitivo.) Bem... Além dessa relação ímpar com a música, de ter que se deslocar para o aparelho, tínhamos o grande medo de ter um disco arranhado. Os empréstimos eram rastreados, havia o pavor de ter aquele raríssimo de sua coleção arranhado pelo colega menos cuidadoso...
Depois veio o CD. Aí ficamos um pouco mais felizes pois, guardadas as devidas proporções, o disquinho poderia ser arranhado, emprestado e outras coisas, que ele raramente dava defeito. Perdíamos a interação "vira o disco" e os detalhes de encarte (obviamente menores dessa vez), mas ganhávamos na limpeza do som (alguns contestam isso, mas deixa pra lá) e na durabilidade. Ficamos um pouco menos cuidadosos com as nossas coleções.
Agora, ou já há algum tempo, o CD começa a respirar por aparelhos. Baixam-se faixas e faixas soltas na rede, sem o menor cuidado sequencial e sem se pensar se aquela canção faz parte ou não de uma obra maior. O que seria de um disco como o The Wall, do Pink Floyd? Ou melhor: o The Wall existiria em tempos assim?
E no cinema? Muitas e muitas pessoas compram/baixam filmes que ainda estão em cartaz no cinema. E têm, OBVIAMENTE, acesso a um produto de baixa qualidade. Não estou condenando a pirataria. Estou apenas constatando um certo comportamento que tem se tornado frequente. Na minha mais que humilde opinião, essas pessoas vão se acostumar com a baixa qualidade. Filmes escuros, músicas com qualidade sonora inferior, legendas mal feitas, falhas na execução da canção passam a ser dos males o menor. E aí nivela-se por baixo, desleixadamente, o consumo daquilo que deveria ter, sim, qualidade.
Não estou querendo ranzinzar aqui, mas é preciso tomar cuidado com essas coisas para que os parâmetros não desçam de tal modo que senhores de 33 anos como eu sejam classificados de chatos e exigentes demais, quando na verdade só querem ser bem tratados.
Aí, já Era.
Ósculos e amplexos para quem for de.
Alex Manzi.
Ao contrário do que muitos pensam, não estamos na Era dos Extremos, nem na Era da Informação, tampouco numa Nova Era (blé, mas isso é assunto pra outro post). Estamos aboletados no sofá confortável da Era do Desleixo.
Faz-se mister que eu antes esclareça. Estou falando em Desleixo no que concerne ao consumo de arte, principalmente depois da internet. Ou consumo do "entretenimento de massa", como alguns filósofos gostam de classificar. (Eu sou do tempo de se dizer "no meu tempo", ou "antigamente" e não sou tão velho assim, mas vou começar o próximo parágrafo dessa maneira, pra dar mais dramaticidade ao texto e, porque não, mais munição aos meus argumentos.)
Antigamente, comprávamos um LP, com seu encarte bacana, reservávamos um tempo pra nos sentarmos e sacarmos todos os detalhes do encarte, da capa, etc... Ainda havia a relação de ter que se levantar pra virar o disco. (O que será de nós? Essa metáfora já está perdendo o significado! Não se usa mais "vira o disco, meu filho", pra quem é repetitivo.) Bem... Além dessa relação ímpar com a música, de ter que se deslocar para o aparelho, tínhamos o grande medo de ter um disco arranhado. Os empréstimos eram rastreados, havia o pavor de ter aquele raríssimo de sua coleção arranhado pelo colega menos cuidadoso...
Depois veio o CD. Aí ficamos um pouco mais felizes pois, guardadas as devidas proporções, o disquinho poderia ser arranhado, emprestado e outras coisas, que ele raramente dava defeito. Perdíamos a interação "vira o disco" e os detalhes de encarte (obviamente menores dessa vez), mas ganhávamos na limpeza do som (alguns contestam isso, mas deixa pra lá) e na durabilidade. Ficamos um pouco menos cuidadosos com as nossas coleções.
Agora, ou já há algum tempo, o CD começa a respirar por aparelhos. Baixam-se faixas e faixas soltas na rede, sem o menor cuidado sequencial e sem se pensar se aquela canção faz parte ou não de uma obra maior. O que seria de um disco como o The Wall, do Pink Floyd? Ou melhor: o The Wall existiria em tempos assim?
E no cinema? Muitas e muitas pessoas compram/baixam filmes que ainda estão em cartaz no cinema. E têm, OBVIAMENTE, acesso a um produto de baixa qualidade. Não estou condenando a pirataria. Estou apenas constatando um certo comportamento que tem se tornado frequente. Na minha mais que humilde opinião, essas pessoas vão se acostumar com a baixa qualidade. Filmes escuros, músicas com qualidade sonora inferior, legendas mal feitas, falhas na execução da canção passam a ser dos males o menor. E aí nivela-se por baixo, desleixadamente, o consumo daquilo que deveria ter, sim, qualidade.
Não estou querendo ranzinzar aqui, mas é preciso tomar cuidado com essas coisas para que os parâmetros não desçam de tal modo que senhores de 33 anos como eu sejam classificados de chatos e exigentes demais, quando na verdade só querem ser bem tratados.
Aí, já Era.
Ósculos e amplexos para quem for de.
Alex Manzi.