Eu Era Um Lobisomem Juvenil
Ouvi dizer que Renato Russo, se estivesse vivo, faria 46 anos nessa semana. Não sei que dia; nem sei se é verdade; não importa. Resolvi falar desse já tão falado poeta do rock brasileiro.
Sei que muitos se chatearam/chateiam com a décima quinta gravação de "Que País é Esse" e com tudo que já foi dito e tocado e lançado depois que os vermes se deliciaram com o corpo do bardo da Legião Urbana. Eu inclusive, pois sou um severo crítico da necrofilia da arte.
Por isso, resolvi não ser tão reverente aqui. Você, querido leitor que esperava loas e mais loas ao "Junior" (como era chamado pela família), pode não se alegrar tanto. É que sempre achei que o pior de um ídolo é a cegueira de seus fãs-seguidores. Vemos isso com os fãs de Raul Seixas, muitos insuportáveis, que insistem em citar tudo-tudo-tudo do Maluco Beleza.
Bom, voltando à vaca louca, Renato se destacou de seus contemporâneos por causa da informação que guardava consigo e pela inovação poética que ajudou a construir no então emergente Rock Brasil Anos 80. Ele, como bom falador de inglês que era (chegou a ser professor), entendia muito bem o que certos compositores americanos e britânicos queriam dizer. Por isso, queridos fãs, não pensem que as historinhas criadas em canções por Russo sejam coisas novas no rock. Bob Dylan já fazia isso aos borbotões. Não pense também, caro fã da Legião, que as referências poéticas sejam coisa nova, que Renato criou só pra vocês. Morrissey, vocalista da ótima banda oitentista The Smiths, já inventava suas poesias ao som do bom rock britânico. E até a dança epiléptica Renato pegou um pouquinho dele e do vocalista do Joy Division.
O que Renato soube brilhantemente fazer foi escrever belas, belíssimas letras que diziam muito, pluralmente sobre o nosso país, imageticamente sobre o amor e questões existenciais que partiam do individual para o coletivo.
É inegável a beleza de um disco como o "Dois", com suas letras intimistas e poéticas. Para quem não sabe, inicialmente o disco seria duplo e se chamaria "Mitologia e Intuição", ou algo do tipo (socorram-me se o título estiver errado!). Mas acharam por bem lançá-lo como um disco simples. Comprei-o na finada Mesbla, na esteira do sucesso Eduardo e Mônica e me apaixonei por todo o álbum. Desd'aquele dia, aquela banda passou a ser minha Religião Urbana.
Mas, depois de muito penar e filosofar e cair e levantar, me curei e não tenho mais meus ídolos intocáveis. Esse texto é prova disso. Gosto de várias coisas ao mesmo tempo mas ainda mantenho minha admiração pela poesia de Renato e pela música de sua Legião Urbana.
Pra não me estender demais, aqui vai uma dica: ouçam o disco gravado por Renato em inglês, "The Stonewall Celebration Concert" e depois me contem. Aquilo ali merece no mínimo respeito.
CD Dois no submarino.com.br: R$20,90 (sem frete)
Camiseta Legião Urbana na Galeria Praça Sete: R$20,00 (em média)
Ver a cara de meus alunos de 18 anos fãs da Legião quando eu digo que fui a 3 shows da banda: NÃO TEM PREÇO.
Ósculos e amplexos para quem for de.
Alex Manzi.