mancheia

"Livros, discos, vídeos à mancheia! E deixe que digam, que pensem, que falem..."

segunda-feira, abril 24, 2006

Eu vou sabotar!

Sim, a exemplo de vários colegas blogueiros, tentarei falar sobre a volta d'Os Mutantes. Fiquei muito espantado com a notícia dessa volta. Mas porque fiquei espantado ainda não sei.

Duvido que tenha sido por dinheiro, pois acho que Sérgio e Arnaldo, durante todo o tempo em que estiveram à margem (no bom sentido), sempre foram autênticos e coerentes com a música que gostam tanto. Eles não precisariam disso.

Acho que Os Mutantes foram uma das mais importantes formações musicais do mundo. Sim, do mundo, pois até hoje vejo poucas bandas tão criativas, inventivas e virtuosas quanto eles. Naquela época (o primeiro disco data de 1968), mesmo com os parcos recursos de estúdio, conseguiram criar canções e desconstruir ícones e subverter clássicos. Ouçam Chão de Estrelas, do disco A Divina Comédia, por exemplo. E hoje em dia, vemos pouquíssimas bandas sendo tão ousadas mesmo na concepção de um disco, mesmo tendo à disposição tantos recursos, mesmo podendo gravar discos e mais discos em casa mesmo, só com o auxílio de um pc e um bom programa.

Reparem, caríssimos, que não usei o termo banda de rock pra defini-los. Isso porque considero Os Mutantes uma banda plural e seria injusto e ingênuo colocá-los em uma só gaveta. Como diria Lenine, eles faziam/fazem/farão MPB - Música Planetária Brasileira. É assim que gosto de enxergá-los e gosto de ver a música deles, que tanto amo.

Agora, não posso deixar de falar de Rita Lee. E vou falar mal! A minha antipatia a ela merece um post só pra isso. Aquele jeito forçado de querer ser diferente e parecer ser doidona me enerva um tanto. Chata e cansativa a menina, gente. Num tenho paciência com gente assim não. Depois que ela saiu, gosto só do trabalho com a banda Tutti-Frutti; uma banda competentíssima. Vai ver eu gosto mesmo é por causa da banda. O trabalho solo dela acho insosso, um popzinho diluído e cansativo, que me dá calafrios quando o violeiro do boteco começa: levava uma vida sossegaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaadaaaaaaaaaaaaa... Brrrrrrrr!!! Os discos dela deviam vir com duas giletes ou com uma caixa de Plasil.

Acabei falando mais da genialidade d'Os Mutantes e da minha antipatia à Rita que propriamente da volta da banda. Isso significa, psicólogos de plantão, que não dei importância para o fato? Não sei ainda o que pensar disso tudo. Só achei infeliz a escolha de Zélia Duncan. Não consigo encaixar o (belo) timbre de voz dela nas (boas) confusões musicais de Arnaldo e Sérgio. Talvez mais uma ousadia desses meninos que nos deram tanto e que nos tiraram o chão de forma tão encantadora.

Evoé, Mutantes! Vocês são very nice pra chuchu.

Ósculos e amplexos para quem for de.

Alex Manzi.

quinta-feira, abril 13, 2006

O mar, quando quebra na praia, é bonito sim

Não. Não me derrubarei em preces para ti, por ti. Sento e olho a espuma branca de tuas ressacas, do álcool das noites passadas e revividas. De tantos que moram em teu seio, e o fazem involuntariamente. E choro, por causa dos vários barcos idos e tantas jangadas que voltaram sós e tantas tempestuosas tempestades de gelo e mijo e pó e lixo e areia qual deserto no meio do oásis.
Não. Não sinto o que sentia quando cheguei e avistei tua grande ampulheta da aldeia, e teus bacuris a encantarem-se com castelos construídos pela audácia e pela areia misturada à tua água fétida de esgoto. E finjo não ver esse amálgama de lixo orgânico e inorgânico, finjo não sentir os teus odores. E assim continuamos a vida automática, no escritório em frente ao branco de teu pó, teu fermento de sonhos.
E povoas canções, declarações, medos e incertezas num final de etapa. Abrigas santos, demônios, feitiços e marinheiros que de tempos em tempos voltam para sorver a espuma branca de tua cerveja, teu levedo, tua cevada, tua levada, teu segredo.

Não. Não esqueço que te ver foi resolver. Ver-te foi entreter. Ver-te foi o vértice de quase tudo em vida e em morte. O que antes parecia solidão, transformou-se em acompanhamento de orquestra aquática. O que antes era triste, veio se tornar sorriso esboçado quase amarelo e sórdido perante tanta lonjura de afetos. O que antes seco, agora água, sal, vento.

E eu não esqueço tuas meninas e meninos. E bundas esculpidas e braços fortes a salvar vidas ao longo de teu inspirador perigo. E mostram seus encantos diante dos maiores, que são teus. E se lambuzam de areia e óleo, a mistura mesma que frita teus frutos e se encarregará de cegar viajantes quando fores deserto.

E sei que tudo que é belo em ti pode ser fúria. E podes destruir e santificar o que seria um mero acaso, uma luta justa entre siris e camarões, homens e mulheres-peixe à milanesa envoltos na fumaça do cigarro proibitivo.

Não. Eu não pretendo me apartar de ti. E quero e vou ser parte do que vejo e sinto gelado em meu corpo suado. Quando o calor não mais estiver no meu peito, quando o que chamamos vida não mais estiver entre meus músculos, veias, ossos e olhares, quero ficar contigo, meu inesperado amor.

Sim. E aí então não estarei mais entre meus semelhantes. Meu pó será parte de ti.
Alex Manzi.

sábado, abril 08, 2006

Olha que coisa mais feia, que falta de graça

Hoje muitos vão pensar que acordei azedo. Eu normalmente acordo azedo quando acordo cedo, mas isso é rima pra outro post. Não acordei cedo mas decidi falar mal de alguém hoje. E venho pensando que é extremamente complicado quando se fala mal de algo estabelecido, principalmente quando falamos da cultura e seus ícones.

Por exemplo, se eu fosse falar mal de Chico Buarque, a grande maioria da população chicotear-me-ia em praça pública. Mas o alvo hoje não é ele. Na verdade, o alvo não é ninguém, mas UMA obra de alguém, de um ícone. Refiro-me à letra de Garota de Ipanema, feita por Vinícius de Moraes para a maravilhosa música de Tom Jobim.

Reparem que eu disse ma-ra-vi-lho-sa música de Tom Jobim. Pois a música é muito bem feita e belíssima, e não merece, na minha humilde opinião, a letra rasteira que Vinícius fez para ela. Podemos dizer que a letra se encaixa perfeitamente na melodia; concordo. Podemos falar que o "poema" tem um ritmo que nos remete ao andar da Garota, ao mar, ao balanço das ondas; concordo duas vezes. Mas o que quero analisar, interpretar aqui é o valor do texto de Vinícius. Não estou falando que o texto precisa ser rebuscado, com palavras difíceis, poesia parnasiana. Não. Pode-se ser simples e lírico ao mesmo tempo, como o supracitado Chico. O parágrafo está ficando grande, então vou pular para outro.

Eu não estou desmerecendo o Vinícius e nem falando mal dele. Estou sim, falando mal da letra que ele fez pra Garota de Ipanema. Fato raro, até a letra em inglês ficou melhor, mais bem cuidada. Feita por Norman Gimbel, me parece mais encaixada ainda na música de Tom. Considero o Vinícius um bom poeta. E, apesar de não muito simpático a ele e ao lambe-lambe em torno dele, gosto muito de algumas letras, mas em Garota de Ipanema foi forçado demais. Não consigo engolir aquilo.

Eu proponho - se há alguém que concorde comigo - reescrevermos a letra e mostrar pra todo mundo. Violeiros do meu país, escrevam suas letras e divulguem pra aldeia. Façam melhor que o poetinha e agradeceremos. Porque chutar cachorro morto é bem mais fácil, né? E Vinícius está bem vivo. Ainda bem.

Minha cara está aí. Podem bater.

p.s.: como muitos sabem, não sou graúdo nem miúdo. Sou médium. E como tal, recebi uma mensagem do próprio Tom Jobim. Ele me soletrou na cabeça esse texto inédito que fez assim que recebeu a letra pra Garota de Ipanema do Vinícius. É só cantar na melodia original. Vamo lá:

Olha que coisa mais feia, que falta de graça
É essa letrinha que Vinícius me passa
Que a contragosto
Sou obrigado a aceitar

Letra fraquinha, rasteira, cheia de improviso,
Que ao lê-la "de prima"
Não contive o riso
Mas com prazo estourado
Vou ter que gravar.

Ah, a gravadora ligou
Ah, pois o prazo estourou
Ah, e o Vinícius faz isso
O Vinícius, menino brilhante,
Parecia um letrista importante.

Ah, se ele soubesse que merda que fez
Não falava comigo nem mais uma vez
Vai ganhar dinheirinho por causa de mim
Só por causa de mim
Fiz a música assim
Só por causa de mim...

Ósculos e amplexos para quem for de.

Alex Manzi.