Gosto das imperfeições humanas. Fascinam-me os dentinhos tortos e charmosos, os pedidos de desculpas (atestado de um erro reconhecido?), a capacidade de cair e se levantar do ser.
Essa introdução pra falar um pouquinho do chamado "bom gosto" que, na minha humildíssima opinião, várias vezes tem sido contaminado por uma pseudo e pedante intelectualidade falsa.
Ficou fácil falar de mercado, músicos que se vendem pra vender mais e mais e "autenticidade", como se cobrássemos honestidade a todo momento de nossos artistas preferidos. Pergunto: quem me garante que os Beatles, a despeito do talento imensurável, não sofreram pressão para adaptar certas canções a um gosto médio, sobre o que seria mais vendável na época? Por que questionamos certos artistas populares que o fazem hoje em dia? Acho que é porque não gostamos do tipo de música/trabalho que fazem. Ou seja, somos sim muito tendenciosos quando julgamos uma obra. Dois pesos e duas medidas? Que feio, gente!
Porque achamos "bacana" um cara do sertão que continua pobre apesar da música que produz e execramos a música "sertaneja" produzida por um cara que também já foi muito pobre e que, através da obstinação e do talento (sim, caríssimos leitores, considero Zezé, Leonardo e Chitãos talentosos) conseguiram ganhar muito dinheiro? É o elogio da pobreza? Síndrome de vira-latas?
Antes que comecem a jogar tomates, esclareço o que me incomoda nisso tudo. A multiplicação e monocultura. Nos anos 80 foi o rock/pop, nos 90 a lambada, e por aí vai. Acho que todo mundo entendeu. Sou a favor da pluralidade e não da preguiça intelectual. Porque algo estourou vai todo mundo atrás disso? Isso não acho bom. Mesmo que seja um tipo de música que me agrada.
Obviamente não estou comparando, mas quantas obras nossos gênios da música erudita não fizeram por encomenda? Isso compromete a qualidade de tais obras? Se o critério for esse, são uns vendilhões!
Achei bonito o post de meu querido parceiro Arthur Petrillo ao falar de Jazz (ou do não-gostar de Jazz). Acho que tudo isso tem que ser discutido mesmo. Iconoclastizar tudo. Isso é liberdade. Como vou questionar a autenticidade de um cara pobre, que viveu no campo e que fez fortuna cantando as músicas que ouvia no campo? Quando a regra fugir disso, aí sim, posso pensar que há espaço pra questionamentos.
E falando em questionamentos, abro espaço pra vocês.
Viva Odair José, Márcio Greyck, Amado Batista e outros que foram/estão/virão!
Ósculos e amplexos para quem for de.