mancheia

"Livros, discos, vídeos à mancheia! E deixe que digam, que pensem, que falem..."

domingo, março 30, 2008

Espetáculo?

Qualquer fanático é por vezes um chato. Sou fanático por música e cinema e fanático por espinafrar o fanatismo alheio. Então, sou um chato também.
Semana passada o Atlético, o tal galo mineiro, comemorou seu centenário. Meus mais sinceros parabéns. Que comemore mais cem. A movimentação toda por conta disso (buzinaços, vigílias de torcedores, foguetório e etceteras) ressuscitou algumas questões que já moravam em mim.
Muitos, mas muitos torcedores encaram a paixão pelo time como religião. E muita gente, por causa da religião, MATA e MORRE. Esses, não hesito em classificar como IMBECIS, na falta de palavra mais adequada. Ouve-se muito falar no futebol como um espetáculo, como um show. Pois é. Devia ser assim, MAS NÃO É MESMO.
Quando já se viu um roqueiro fã do Sepultura atacar outro só porque este vestia uma camiseta de outra banda? É claro que brigas e afins também acontecem em shows musicais, mas elas nada têm a ver com fanatismo religioso.
(Antes que alguém pergunte: sim, sou simpático ao CRUZEIRO, maior rival do Atlético aqui em BH. Mas digo que tudo escrito aqui vale para cruzeirenses, flamenguistas, corintianos, religiosos em geral. Ademais, nem o nome do goleiro do Cruzeiro eu sei. Só acompanho nas finais; sou oportunista e interesseiro.)
A discussão que procuro levantar é que: sim, o futebol deveria ser levado como uma banda da qual se gosta, um filme que se assiste. DIVERSÃO. O que atrapalha é que nunca os torcedores conseguem ser imparciais quando o assunto é futebol. E esse tipo de comportamento anula qualquer tipo de discussão séria e sadia sobre uma partida de futebol e congêneres. É essa a coisa chata do bolo todo. O legal seria uma conversa entre os torcedores dos times A e B desse jeito:
A: Pôxa, cara. Fiquei triste pois A não jogou bem. Mas o seu time mereceu a vitória. Parabéns.
B: Obrigado, cara. Nós realmente jogamos melhor.
A: Mas você não acha que aquele pênalti a favor de vocês foi mal marcado?
B: Agora que você tocou no assunto e, vendo o replay do lance, eu concordo. O Fulano se jogou. Claramente. O juiz errou a nosso favor.
A: É... Mas foi um bom jogo.
Com certeza estou pedindo demais, sonhando, e o texto acima vai fazer parte de uma antologia de ficção científica. Infelizmente isso tudo não vai mudar. E o chamado "espetáculo" terá mais palhaços e feras selvagens que mágicos.
Ósculos e amplexos para quem for de.
Alex Manzi.

domingo, março 23, 2008

Ele está lá

"There are many here among us who feel that life is but a joke (...)"
All Along the Watchtower, de Dylan, mas já gravada por Neil Young, U2, Jimi Hendrix, Dave Matthews Band e, talvez, mais gente por aí.
Robert Allen Zimmerman parece ser o homem do ano, do milênio. Bob Dylan, pra quem não conhece. Dylan esteve aqui no Brasil com preços lá em cima e já está nos cinemas em Não Estou Lá, de Todd Haynes. Ou melhor, Dylan não está nos cinemas. O que eu vi foi uma cinebiografia das mais originais. Bob Dylan é tão multifacetado e tão complexo que mereceu o que vi na telona.
Para começar, devo dizer que não sou crítico de cinema e vou falar aqui de minhas impressões acerca do filme. Só isso, sem qualquer pretensão maior. O nome Bob Dylan não é citado no filme. Seis atores vivem as diferentes fases da vida dele. Mas, vivem como se fossem outro. Inclusive com nomes diferentes. O que achei interessante no filme é a mistura de verdade e ficção. Elas parecem estar tão entrelaçadas no filme que nos enganam do outro lado da tela. Como uma mentira repetida que se transforma em realidade, pela simples construção do ambiente, dos personagens, do tom.
Estão lá todas as fases importantes do bardo americano. Suas angústias, suas trapaças com a vida real, sua ironia fina e venenosa com quem não entende o que ele faz. Dylan pode ser visto como um andarilho interessado na tradição, como um cantor de sucesso imenso, como um cantor simples de folk, como um astro elétrico do rock, como um desafiador de seu próprio público (que o chama de Judas ao trocar a sonoridade folk - violão, gaitinha, voz - pela guitarra elétrica e o auxílio de uma banda "barulhenta"), como um fora-da-lei em sua própria terra e, principalmente, como um ator de si mesmo; alguém que falseia a sua própria trajetória e se angustia em estar perdido no seu próprio furacão.
Todo o filme é pautado por canções clássicas e outras nem tanto assim, mas todas muito boas. Sou suspeito pois adoro o trabalho de Dylan, apesar de não ser um profundo conhecedor de todo o repertório dele. Gosto de manter como enigmas pra mim os artistas que admiro.
Ao final de tudo, fica também a vontade de ter uma cinebiografia mais linear e menos falseada. Seria interessante ter ao alcance das mãos as duas leituras. Mas penso mesmo que Dylan, pela magnitude de sua obra e pela complexidade de sua personalidade artística, não pede nada além de mistério e fragmentação em algo que tente retratá-lo. Muitos biógrafos já afirmaram que Bob já mentiu e inventou e trapaceou em fatos de sua própria biografia. O homem é o senhor dos sortilégios; um feiticeiro sem aprendiz.
Dylan lá, vivendo o que finge e nós aqui, fingindo que vivemos.
Ósculos e amplexos para quem for de.
Alex Manzi.
p.s.: agradecimento especial à Claudinha, dona do genial e feliz título deste post.
p.s2.: quem ficar até o final dos créditos pode conferir uma belíssima interpretação de Knockin' on Heaven's Door por Anthony and The Johnsons, banda mais que bacana que muita gente devia conhecer.

segunda-feira, março 17, 2008

Carta à TIM

Belo Horizonte, 16 de Março de 2008.
Caríssimos,
Já que não consigo falar no atendimento com vocês, escrevo esta carta mui singela, de próprio punho cibernético. Não que eu espere que vocês leiam este blog. Não. Vocês têm coisa melhor pra fazer na vida, visto que não dão a mínima atenção para as minhas tentativas de contato. Mas o meu sentimento é tão grande que tenho uma nesga de esperança que algum de vocês venha ler isto.
Há três longuíssimos dias eu comprei um aparelho celular para abrigar um número de celular e este, por sua vez, abrigar um número TIM CASA FLEX, doravante denominado TIM BOSTA FLEX, ou simplesmente TBF. Tive que realizar o mesmo procedimento pra cadastro (*222) no TBF duas vezes, pois meu nome não estava cadastrado de forma correta. Até aí, tudo bem. Fui informado então que teria que ESPERAR 24 horas para ligar para *333 e cadastrar a área de atuação do meu fixo. ESPEREI. Liguei e ouvi a bela porém gélida voz da gravação, dizendo que a minha área tinha sido cadastrada com sucesso. E aí teria que ESPERAR uma mensagem com a confirmação do número do meu fixo. Cansado de ESPERAR a tal confirmação, liguei para o *144 e solicitei o número. O moço disse que minha área NÃO tinha sido cadastrada. Zerou o sistema e disse pra eu ligar para o *333 para cadastrar de novo a área. Liguei. Cadastrei. ESPEREI.
Liguei novamente solicitando o número e, depois de me oferecer três possibilidades (que foram descartadas por ele mesmo!!!), fiquei com a quarta possibilidade de número. (É, minha gente, é caso de rir mesmo.) Bem, então lá estava eu com meu número fixo já pronto e funcionando. Isso: ele conseguiu funcionar!!! Não é bom isso? Inclusive divulguei já o número pra algumas pessoas. Finalmente eu poderia dar um pé na bunda da Telemar e sua assinatura mercenária.
Então, na noite de sábado, o TIM BOSTA FLEX, ou TBF, parou de funcionar. Recebia chamadas, mas não ligava. Então, liguei para o atendimento; e nem preciso dizer que ESPEREI. Só na noite de sábado eu liguei 5 vezes. Literalmente. Quando conseguia falar, a ligação caía no meio da conversa; quando o atendente não sabia responder minha dúvida, a ligação misteriosamente caía também. Quando a ligação não caía, o sistema que cuidava do TIM BOSTA FLEX estava fora do ar. E então eu ESPERAVA e ligava de novo, um pouco depois.
Hoje, domingo, já liguei 11 vezes. Literalmente. Se não soubesse de cor meu CPF já teria decorado, de tanto repetir para todos os atendentes que fingiram que me atenderam. E, de volta, os mesmos problemas: quando conseguia falar, depois de uma longa ESPERA ouvindo uma new age horrorosa, a ligação caía, ou transferiam a minha ligação para O NADA, O LIMBO, que é o lugar que eu mereço.
Depois de tudo isso, eu resolvi cancelar, com apenas 3 dias de não-uso, o TIM BOSTA FLEX. Desculpem, senhores. É que eu sou assim mesmo. Não tenho muita paciência para resolver problemas tão pequenos assim. Pobres de vocês, que têm que agüentar gente da minha estirpe, sem a mínima tolerância para contratempos. Vocês serão muito melhores sem mim, tenho certeza.
(Des)atenciosamente,
Alex Manzi.
p.s.: O "Caríssimos" lá de cima significa que a incompetência dos senhores saiu muito cara pra mim. Nada a ver com o sentimento de estima, que dedico somente a quem me respeita.
p.s.2: Eu ESPERO, sinceramente, que vocês queimem no inferno. Com força.

segunda-feira, março 10, 2008

Paulão da Viola

No post anterior eu falava dos preços nababescos dos espetáculos aqui em BH. Pois bem, graças a uma promoção surpresa de um jornal daqui, conseguimos ir ao show de Paulinho da Viola. Ele continua um Príncipe do Samba. Eu sei que esse título está batido, mas ele é mesmo. Não tenho culpa.
O show tinha como base o repertório do DVD/CD Acústico MTV. Já falei também deste formato e o que eu acho dele. Mas, vamos ao show.
Paulinho começou, com meia hora de atraso (assunto pra outro post esses tais atrasos), sozinho na introdução de Timoneiro; e eis que as cortinas se abriram e a banda atrás dele se revelou. Mágico.
Eu já tinha ouvido algumas críticas a respeito do som do Chevrolet Hall e confesso que ainda não tinha dado ouvidos a elas, pois meu último show lá foi dos meus queridos Los Hermanos e o som estava bacanésimo. Mas no show de Paulinho eu dei razão aos críticos. O som começou péssimo e desastroso e chegou ao meio do show ruim. Agora, eu não sei se eu achei que ficou menos péssimo o som porque melhorou um pouco ou porque a gente se acostuma até com coisa ruim. Vai saber...
O que eu sei é que, bem no meio do show, valeu o ingresso a execução de Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida. Ao final dessa canção maravilhosa, Paulinho foi aplaudido de pé por aquele povo de meu Deus. Lindo e arrepiante.
Paulinho fala pouco com o público, mas de forma bem pausada e calma. Talvez venha dessa calma a tão falada elegância do moço. Pediu desculpas por ter que afinar o violão toda hora que o pegava, pois ali no palco estava muito quente e as cordas, vocês sabem cumé...
Enfim: mais uma vez, já era de se esperar, como todo mundo sabe, já não é novidade, o show de Paulinho foi de uma beleza inspiradora. Arrepiante a execução dos clássicos do músico e as canções menos famosas também. Um estudo sobre o que é o samba e sobre o que ele deve ser.
Mas, e sempre há um MAS:
Na minha humilde opinião, Paulinho, no bis, fechou bem o show, retomando a resolução cênica do começo, com Timoneiro. Mas - e falo isso como público, sedento de catarse -, devia ter encerrado o show "pra cima". Depois de Timoneiro, ele bisou Talismã, aparentemente a "música de trabalho" do novo DVD/CD, parceria dele com Marisa Monte e Arnaldo Antunes. Se tivesse bisado Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida, sairia mais consagrado ainda do palco. Mas, isso é só opinião...
Duas coisas ficaram muito pra mim:
1. Ainda acho o Palácio das Artes o palco mais nobre da cidade, em todos os sentidos.
2. Mesmo com som ruim, Paulinho da Viola é muito foda.
Ósculos e amplexos para quem for de.
Alex Manzi.

segunda-feira, março 03, 2008

Quanto vale o show?

Fiquei sabendo ontem dos preços dos ingressos dos shows de Bob Dylan em São Paulo:
Platéia VIP e camarote: 900 reais
Platéia 1: 700 reais
Platéia 2 e mezanino lateral: 500 reais
Platéia 3: 400 reais
Platéia lateral: 250 reais
Não é uma maravilha? Eu folgo em saber que todo mundo vai ter acesso ao velho bardo americano; que todos poderão ouvir as canções daquele que ajudou a revolucionar o jeito de fazer canções populares. Que ótimo que muitos chefes de família só gastarão uma pequena parte de seu salário mínimo para ver o fanho mais bacana do rock. E, finalmente, soa-me muito agradável a idéia de que todo brasileiro poderá pagar o ingresso do show daquele que influenciou meio mundo da canção popular.
Ironias à parte, é muito estranho um artista tão engajado e de certa visão crítica sobre a nossa realidade ser tão restrito assim. Não consigo entender o preço de certos ingressos para shows e demais espetáculos no Brasil. Não sei qual o mecanismo perverso que dita o preço desses espetáculos todos (se é o cachê do artista, se é a ganância dos produtores, se é a garantia de procura do público, se é o aluguel da casa de espetáculos), mas tem algo de muito errado aí.
Depois disso, dei uma olhada em alguns espetáculos que estão ou estarão em cartaz aqui em BH. Ei-los:
Paulinho da Viola
8 de Março no Chevrolet Hall
1º setor: R$ 100,00
2º setor: R$ 90,00
Dream Theater
9 de Março no Chevrolet Hall
2º lote: R$ 140,00
Maria Bethânia e Omara Portuondo
4 e 5 de Abril no Palácio das Artes
Platéia I: R$ 160,00
Platéia II: R$ 140,00
Platéia Superior: R$ 120,00
Os preços são proibitivos. Suponhamos que eu queira ir aos três espetáculos e "escolha" pagar os ingressos mais baratos. Pois bem, gastarei exatos R$ 350,00. Sim. Visto que minha namorada tem os mesmos apetites culturais, gastaremos R$ 700,00. Ba-ca-na.
Não estou, de maneira alguma, dizendo que os artistas em questão não valem um investimento. Só acho que os preços de ingressos praticados são muito muito muito altos.
Aí, vem a turma do deixa-disso e diz: "mas há custos altos de viagens na turnê, e etc-etc-etc..." Então como se explicam os preços altíssimos de um espetáculo do quilate do Grupo Corpo, por exemplo? A base deles é aqui em Belo Horizonte mas, quando se apresentam por aqui os preços beiram os dos espetáculos supracitados. Por quê?
Outra questão: por que, quando os espetáculos no Palácio das Artes têm preços populares, não é permitida a escolha de lugares na platéia do Grande Teatro? É esse serviço que encarece os espetáculos? E talvez isso seja papo pra outro post. Ou para os comentários.
Por favor, Queridas e Queridos...
Ósculos e amplexos para quem for de.
Alex Manzi.